Quando teve espaço aqui neste blog a discussão sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo quase não emiti opinião. Na verdade, a preocupação maior foi informar e ajudar a indignar as pessoas que por ventura lessem aqui a notícia. Mas é urgente que eu como blogueira e jornalista diplomada (que deus à tenha?), me manifeste.
Primeiro, eu acho que inclusive neste blog, a ditabranda sombreou a discussão. Até porque ninguém sabe direito se quer continuar discutindo sobre isso. Uma das últimas notícias - STF tentará incluir na pauta de 29/04 julgamento sobre a Lei de Imprensa - revela certa indigestão com o assunto.
Li inúmeros artigos sobre o tema. No entanto, ainda que ponderando e reavaliando minha opinião de acordo com as leituras, uma impressão não me saía da cabeça. Admitir o fato de não haver obrigatoriedade de diploma para o Jornalismo revela que para muitos as técnicas e a ética específicas da profissão são secundárias. Se é verdade que uma pessoa, especialista na área que pretenda escrever, coerente em seu raciocínio e de escrita clara pode escrever como se jornalista fosse, é verdade também que jornalismo é só texto. Afirmação da qual categoricamente discordo.
O texto é o produto final do Jornalismo e o registro resumido de toda a pesquisa jornalística feita sobre aquela pauta. Pauta essa que é escolhida de acordo com critérios conjunturais de uma população, de acordo com a importância que o assunto tem na vida das pessoas. Dizer a notícia com clareza não faz parte somente de um recurso estilístico do texto, mas da premissa de garantir o bom entendimento por uma diversidade de leitores. Maneiras de organizar as informações são aprendidas na faculdade e não tem nada a ver as regras que a gente aprende no terceiro ano para fazer a redação do vestibular. Ainda que a mais tracional maneira, o Lead, seja criticada e deixadoade lado por muitos jornaistas, como eu, qualquer tentativa de fugir do lead também representa uma maneira de organizar o texto. Como diria uma antiga professora, a subversão também deriva da regra.
Existem, além dessas, muitas ténicas que configuram o Jornalismo como faculdade diferenciada das demais áreas da Comunicação e das Ciências Sociais Aplicadas. A obrigatoriedade de assegurar a fala das partes envolvidas num fato, semelhante ao Direito, é uma técnica tão inerente ao produto quevemos no jornal que, sem ela, todas aquelas matérias virariam artigos de opinião.
Posiciono-me, então, a favor da obrigatoriedade não apenas por pensar que desistir dela seja jogar fora os esforços em institucionalizar a profissão. Essa posição também advoga um papel talvez utópico cumprido pelo Jornalismo de ser um dos alicerces da Democracia. A garantia à transperência e à informação.
Em um dos artigos que li, o direito à liberdade de expressão é utilizado como argumento a favor da formação aleatória. Não concordo. Dizer o que quer na Internet, em mesas de bares, entre amigos e buscar informações das coisas que te interessam, está muito longe de representar o serviço prestado pelo Jornalismo.
Imagino que você já deve ter se perguntado: mas e os meios de comunicação de políticos, e toda a corja, e toda a falcatrua que permeia o Jornalismo? Um, a má fama de alguns médicos charlatães nunca culminou numa onda de protestos contra o diploma do médico porque sabemos que a universidade lhe proporciona conhecimentos para exercer a profissão, ainda que existam faculdade ruins. Dois, o Jornalismo é tão importante na nossa sociedade que, por exemplo, quando o presidente venezuelano Hugo Chávez se vê contra a parede começa a controlar a imprensa e tenta afastá-la da oposição.
Ia dizer que sou suspeita para falar, mas não sou. Ser jornalista é a maior prova de que acredito na transmissão da informação como poder de muitos. Ainda que no Brasil essa informação muitas vezes deixe de ser utilizada como ferramenta.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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2 comentários:
Aline,
Só concordo contigo parcialmente. Não há dúvidas de que o jornalismo, atualmente, se configure como uma profissão: Primeiro, os jornalistas (diplomados ou não) são detentores de um conhecimento técnico específico que exige investimento formal em educação (seja em faculdades de comunicação, seja em outras faculdades) e, segundo, os jornalistas possuímos uma identidade profissional consistente. Nos faltaria, talvez, um terceiro elemento que mostraria uma maior coesão profissional: o controle sobre a oferta profissional; mas, no entanto, outras profissões mais bem consolidadas - como os advogados - também não têm ainda esse poder.
O problema com a questão do diploma é que está provado que profissionais não diplomados podem exercer tranquilamente a profissão de jornalista, vide grandes exemplos de jornalistas em nosso país (incluíria aqui meu padrinho, jornalista de grandíssima qualidade, respeitadíssimo na profissão e que sequer tem curso superior...). É óbvio que essas pessoas tinham que passar por um processo de socialização, aprendizado da técnica, formação de indentidade profissional etc. Isso se dava de forma natural antigamente. O indíviduo ia trabalhar num jornal como tipógrafo ou qualquer coisa menos relevante e aos poucos ia sendo introduzido, pelos jornalistas mais velhos, nos meandros da profissão. Aos poucos lhe eram passadas algumas tarefas de apuração etc. até que o indivíduo pudesse ser considerado jornalista. De fato, o que alguns jornais e empresas argumentam (e é óbvio que isso é do interesse desses jornais e empresas) é que prefeririam iniciar seus jornalistas (como nos velhos tempos) ao invés de contratar profissionais jornalistas vindos das universidades...
No entanto, nós sabemos que há muito mais por trás do jornalismo do que o mero aprendizado de técnicas específicas e é aí que cursos de jornalismo têm uma função essencial. O que eu acho inaceitável, portanto, é que sejam as empresas jornalísticas e não os jornalistas aqueles que vão decidir a forma como aceitarão novos membros na profissão. Se o jornalismo continuará sendo ensinado nas universidades como um curso de graduação, se será transformado em um curso tecnólogo, se será uma especialização, ou mesmo um mestrado, para mim, é uma discussão que nós jornalistas é quem temos que fazer. Se for um consenso profissional que atualmente os jornalistas precisam estudar na faculdade de jornalismo, que assim seja. Mas não devemos desconsiderar o fato - e é isso que eu acho mais importante - que nossos cursos de jornalismo não são lá essas coisas... Muitas vezes, profissionais de outra formação (economistas, advogados, médicos, sociólogos etc.) têm uma formação cultural geral muito mais apurada do que aqueles que se formam em cursos de jornalismo o que, em tese, os habilitaria muito mais para o exercício positivo do jornalismo... desde que sejam iniciados nas técnicas específicas da profissão e é isso exatamente o que as empresas jornalísticas querem fazer.
Daí que eu, por enquanto, acho que o jornalismo não é o diploma. Pode ser. Pode vir a ser. Não é a faculdade, ainda, que tem monopolizado o ensino das técnicas específicas de nossa profissão (como no caso do direito, da medicina, da sociologia, da fonoaudiologia etc.) e não somos nós jornalistas que temos tomado as rédeas da organização profissional (nossos sindicatos são fragilizados, a federação dos jornalistas defende posições dúbias... não estamos nem perto de formar um conselho ou ordem profissional...). Assim, acho que nós temos muito mais o que fazer pela profissão do que defender o diploma (não que eu não o defenda), é preciso que garantamos as condições para que o diploma de jornalista (seja em que nível for, graduação, pós et.) seja algo essencial na formação daqueles que venham a ser considerados jornalistas.
Olha, para se exercer um determinado tipo de "jornalismo" não há necessidade alguma de diploma mesmo. Textos baseados em técnicas vazias, cópias inapuradas de notícias de agências, frases feitas, reportagens apressadas, pautas sem um pingo de criatividade, matérias recicladas, inúmeros jornais estampando as mesmas idéias... e que idéias. Eu diria que a formação acadêmica até atrapalha o bom desempenho do "jornalista". Na era pós-internet qualquer pessoa com um mínimo de tino literário é capaz de escrever bons textos e veiculá-los. Agora podemos brincar de repórter, editor, correpondente internacional, formador de opinião. O que é muito bom para a democratização e disseminação de fóruns socias e mobilizações. Sim, é ótimo, mas não necessariamente Jornalismo. Hoje qualquer pessoa pode escrever e publicar o que quiser, sobre o que bem entender na hora que quiser. Não estou dizendo que isso é ruim, mas estou dizendo que isso não é e não deve ser confundido com Jornalismo. Acho que, por isso mesmo, agora mais do que nunca, é necessário que se faça a distinçao entre o jornalista e todo o resto. Concordo com o Gustavo quando ele diz que outros curso na área de Humanas ofecerem uma formaçao cultural e sociológica muito mais sólida que o curso de Jornalismo. Na faculdade, sempre procurei por matérias em outros cursos como filosofia. E achava que, por isso, não devia gostar tanto de Jornalismo assim, que talvez tivesse escolhido o curso errado. Mas hoje eu penso quase o contrário. O curso que é que não era jornalístico os suficiente pra mim. O jornalista precisa munir-se de todo um fundamento teórico para lidar com o tarefa de se relacionar com a os fenômenos que seráo transformados em notícia. Alguém sem a conciência necessária estará praticando mau jornalismo, também conhecido hoje em dia como jornalismo. Agora, mais que nunca, sinto a necessidade de aprimorar o curso de Jornalismo, reformulá-lo para fortalece-lo e não simplesmente rebaixa-lo à epecialização técnica. Acho essencial para o Jornalista conhecer as disciplinas, as pesquisas, a vertentes teóricas que costituem a Ciência Comunicaçao Social. E até onde eu sei, isso não seria possível no curso de Direito ou Sociologia. Não me fecho à possibilidade de seram criados cursos de pós-graduação com especialização em Comunicação Social e Jornalismo. Mas ainda não me soube de nenhuma proposta com substância em relação a isso.
Enfim...
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